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Hackear barreiras para construir um futuro com mais mulheres na TI
*Por Aline Swensson, Chief Sales Officer (CSO) da Unentel
Quando reflito sobre o futuro da TI, não posso deixar de pensar na importância da diversidade para a inovação e competitividade no setor. Como mulher e porta-voz dessa causa, acredito que a inclusão feminina na Tecnologia da Informação não é somente uma questão de equidade, mas o melhor caminho para aumentar a criatividade e dinamicidade da área.
Historicamente, a presença de mulheres em tecnologia sempre foi reduzida. Embora sejamos a maior parte da população brasileira e tenhamos níveis de escolaridade mais elevados, segundo o IBGE, essa qualificação não se reflete no mercado de trabalho.
Outro dado que chama a atenção é que só 15,7% dos estudantes de TI são mulheres, conforme informações do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Como a educação desempenha um papel importantíssimo na mudança de paradigmas, incentivar o interesse de meninas em ciência, tecnologia, engenharia e matemática por meio de programas educacionais a partir da educação básica pode ampliar as oportunidades futuras.
Mas, embora tenhamos um longo caminho a percorrer, a presença de mulheres na área de TI cresceu de modo consistente nos últimos anos. Movimentos como o #WomenInTech têm ajudado a criar redes de apoio importantes, assim como programas de capacitação e mentoria. Por exemplo, segundo o último relatório de diversidade no setor de TI, realizado pela Brascomm, a participação feminina aumentou para 39% em 2024, comparado a 30% apenas quatro anos antes — e representatividade importa.
Mesmo assim, a disparidade salarial entre homens e mulheres ainda é significativa: eles ganham 37,1% a mais do que elas na área de tecnologia. Essa diferença pode ser explicada pela predominância masculina no setor, com média salarial superior, bem como maior concentração de homens em cargos elevados.
Para que mais mulheres recebam remuneração justa por trabalho equivalente, a boa vontade não é suficiente. É preciso estabelecer políticas públicas. Um bom exemplo é a Lei nº 14.611, que tem como objetivo garantir a igualdade salarial entre pessoas de ambos os sexos que ocupem os mesmos cargos e funções.
Os programas de mentoria e desenvolvimento também podem ajudar a criar ambientes corporativos mais inclusivos e ajudar mulheres a crescerem em suas carreiras na tecnologia. Junto a isso, é importante que as empresas estabeleçam processos seletivos transparentes que não recaiam sobre vieses inconscientes. Esse compromisso corporativo inclui estabelecer políticas de inclusão com metas de diversidade de gênero que trarão, junto à equidade, benefícios imensos para a inovação tecnológica.
É um fato que empresas que promovem a inclusão feminina e a diversidade têm mais chances de superar a média do mercado em relação à lucratividade, como demonstra um relatório feito pela McKinsey & Company. Equipes diversas entregam resultados melhores, pois diversidade impulsiona a criatividade, e pessoas com perspectivas e abordagens diferentes colaboram de maneira significativa.
No entanto, sabemos que a entrada e permanência feminina no setor de TI enfrenta muitas barreiras que pesam mais sobre as mulheres do que sobre os homens. A carga horária extensa e necessidade de constante atualização profissional, somadas às barreiras culturais, aos preconceitos e à jornada dupla — que ainda recai majoritariamente sobre as mulheres —, tornam mais difícil o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, fazendo com que este caminho não seja nada linear.
É por isso que, como profissionais do setor, principalmente como mulheres da área tech, precisamos continuar hackeando essas barreiras. Afinal, a igualdade de gênero em TI não é somente uma responsabilidade social, embora esse seja o cerne da questão, mas uma estratégia de negócios essencial para o sucesso das empresas de tecnologia.
Minha expectativa é que cada vez mais mulheres escolham a TI como caminho profissional, e que encontrem no setor um ambiente que as acolha com equidade, remuneração justa e oportunidades reais de crescimento. Não basta que elas sejam competentes: as estruturas precisam estar preparadas e comprometidas com condições igualitárias. Competência técnica é essencial, sim, mas só floresce em ambientes onde todas as pessoas têm as mesmas chances de chegar, permanecer e crescer.
A diversidade não pode ser tratada como um bônus. Ela é uma necessidade para qualquer setor que pretenda construir o futuro.